sábado, 24 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal e Ano Novo


Tendo, uma vez mais, a honra e o privilégio de vos dirigir a palavra no umbral de um Natal e Ano Novo, que, segundo esperamos, serão ainda mais felizes e abençoados do que aqueles que os precederam, salientamos que o ano que ora finda foi de considerável progresso para o Movimento do Sigma e para a Frente Integralista Brasileira. Com efeito, a Palavra Sigmática foi muito mais lida e ouvida em 2011, no Brasil e em todo o Orbe Terrestre, do que nos anos recentemente anteriores, e, assim, a Mensagem Integralista foi transmitida a muito mais pessoas e grupos d’aquém e d’além oceano, tendo sempre como referência fundamental a FIB, de sorte que demos largos passos no caminho do fortalecimento de nossa Instituição enquanto escola de civismo, de cultura e de política.  Nos consolidamos, ademais, como referência para diversos outros grupos e movimentos, muitos dos quais portadores de ideais fundamentalmente diversos dos nossos nos campos político e sócio-econômico, a exemplo de alguns dos diferentes movimentos de inspiração “neoconservadora” que vêm surgindo em nosso País e que, assim como nós, defendem as tradições religiosas e morais do Cristianismo, mas que, infelizmente, sustentam, no plano político, a preservação da liberal-democracia, e, no plano sócio-econômico, as infaustas teorias do denominado liberalismo clássico e da chamada “Escola Austríaca”, sem perceber que a liberal-democracia e o liberalismo sócio-econômico representam não apenas a antítese das tradições religiosas e morais cristãs, mas também as principais forças de dissolução destas.

O ano de 2012, que se iniciará, para nós, oficialmente, com o IV Congresso Nacional da FIB, a ser realizado na Cidade de São Paulo do Campo de Piratininga no próximo mês de fevereiro, será, seguramente, de grandes realizações para todos nós, que, sob as bênçãos de Deus, faremos que, para o Bem do Brasil e – por que não dizê-lo? - de todo o Mundo, chegue a mais pessoas e grupos nossa Mensagem de civismo, de patriotismo, de nacionalismo sadio e edificador e do mais lídimo idealismo orgânico. Manteremos, assim, viva a chama do Ideal de recristianização integral do Brasil e de religação deste às suas raízes autênticas, isto é, à sua Tradição, bem como o facho do Ideal de edificação de um Estado Integral, ou seja, de um Estado Ético de Justiça, ético não por ser a própria encarnação da Ética, como querem, dentre outros, Hegel e Gentile [1], mas sim por ser inspirado na Ética, que lhe é anterior e superior, e movido por um ideal ético, como sustentam, dentre outros, Gino Arias, Giorgio Del Vecchio e Miguel Reale [2], e de Justiça não por ser o criador da Justiça, que igualmente lhe é precedente e superior, mas por se pautar nas regras da Justiça e se mover por um ideal de Justiça. É este o "Estado Orgânico Integral Cristão" de que nos fala Alcibíades Delamare [3] e o “Estado Corporativo Cristão” de que nos fala Gustavo Barroso [4], e que não é um princípio ou um fim, mas apenas um meio, um instrumento da Pessoa Humana e do Bem Comum [5], se constituindo, em última análise, no “Estado que vem de Cristo, inspira-se em Cristo, age por Cristo e vai para Cristo”, conforme as inspiradas palavras de Plínio Salgado [6].

Recordando, pois, estas e outras palavras de Plínio Salgado, insigne “Arauto e Apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade” e “Bandeirante da Fé e do Império”, como o chamamos algures [7], ou, na expressão de Hipólito Raposo, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade” [8], ou, ainda, no dizer de Francisco Elías de Tejada, o “profeta incandescente e sublime de seu povo”, a “encarnação viva do Brasil melhor”, o genial “profeta do Brasil”[9], País que, caso queira ser “autenticamente brasileiro” deve “volver seus olhares para esse apóstolo caboclo, baixinho e nervoso no corpo, porém grandíssimo na alma e na fé” [10]; recordando, enfim, estas e outras palavras deste Mestre - que  como faz salientar João Ameal, escreveu, falou, combateu e apostolizou “sob a luz perene da obediência a Cristo”, empregando argumentos colhidos “nas divinas palavras”, levantando imagens “sugeridas pelas divinas lições”, lançando apelos que “são o eco dos divinos apelos” e tendo como programa a reimplantação, “na consciência dos contemporâneos”, da “figura excelsa do Filho de Deus” e o incitamento no sentido de que O tomassem por modelo e soubessem “voltar ao integral cumprimento da Sua Lei” [11] - julgamos oportuno transcrever, revisto e ampliado, um parágrafo da Mensagem de Natal e Ano Novo que redigimos no ano de 2010 [12]:

É por Cristo que nos levantamos neste grande, nobre e belo Movimento em defesa do Brasil Profundo e de suas mais lídimas tradições, sob o lema “Deus, Pátria e Família”, nobre e elevado como nenhum outro. É por Cristo que nos irmanamos em torno da bandeira azul e branca do Sigma, Sigma que é, com efeito, o símbolo pelo qual os primeiros cristãos helenos identificavam SOTEROS, o Salvador, que não é senão, como bem sabeis, o Nosso Senhor Jesus Cristo. É por Cristo, ainda, que pugnamos pelo Solidarismo Cristão, pregando e praticando a Caridade, a Solidariedade, a Harmonia e a Cooperação entre as Pessoas das diferentes classes sociais, bem como a Justiça Social e o fim do iníquo sistema que instituiu o culto das riquezas materiais, separou a Economia da Ética e transformou o Trabalho e a Propriedade em simples mercadorias regidas pela lei da oferta e da procura e o Mundo em um vasto mercado governado pelo dinheiro e pelo nefando poder deste e onde os Homens valem por aquilo que têm e não por aquilo que são. É por Cristo, ademais, que queremos instaurar uma Sociedade Orgânica e um Estado movido pela Ética e pela Ética transcendido. É por Cristo, enfim, que nos fazemos soldados, bandeirantes da Tradição e da verdadeira e autêntica Revolução, isto é, da Revolução entendida no mais rigoroso e próprio sentido do termo, isto é, compreendida como uma transmutação integral de valores no sentido de recondução do Homem e da Sociedade ao seu princípio, como reedificação do Homem e da Sociedade autênticos.

Como frisamos naquela ocasião, a fim de desfazer possíveis equívocos, a Revolução pela qual pugnamos não é senão aquela mesma Revolução proposta pelo Servo de Deus Fulton Sheen, isto é, “a verdadeira revolução”, “revolução de dentro para fora”, “revolução que mude os corações”, “revolução semelhante à que descreve o Magnificat, que foi mil vezes mais revolucionário do que o manifesto de Karl Marx, em 1848” [13], manifesto este que, aliás, consoante igualmente salientamos na referida Mensagem, se configura num plágio do Manifesto da democracia no século XIX, de Victor Considérant, e nada tem de revolucionário no sentido tradicional do vocábulo, uma vez que não rompe com as ideias dominantes em seu tempo, tais como o materialismo, o economicismo e o mito do progresso ilimitado do Homem e da Sociedade.

Consoante igualmente sublinhamos naquele documento, a Revolução que propugnamos não é senão a Revolução de que Plínio Salgado foi – e é – portador, segundo João Ameal, que, em apresentação à obra O Rei dos reis, do autor da Vida de Jesus, evocando a conferência intitulada A aliança do sim e do não e proferida por este no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, no mês de março do ano de 1944, assim se exprime:

“’As verdadeiras revoluções’ – escreveu um dia Péguy – ‘consistem essencialmente em mergulharmos nas inesgotáveis fontes da vida interior. Não são os homens superficiais que podem pôr em marcha tais revoluções – mas os homens capazes de ver e de falar em profundidade’. Porque Plínio Salgado é desses homens capazes de ver e de falar em profundidade, porque não se queda nas aparências transitórias e vai direto ao essencial (só o essencial, aliás, o interessa) – respirava-se, à saída da sua conferência, por entre a banal algazarra da noite citadina, uma atmosfera que se poderia chamar, de fato, revolucionária, no sentido mais exato do termo revolução, que significava volta ao ponto de partida. Exortara-nos o orador a voltar ao ponto de partida, ao Senhor e Criador que está na origem de tudo e a quem devemos regressar com humilde e incondicional adesão se queremos merecer que nos ensine o Caminho, a Verdade e a Vida.

“Revolução prodigiosa. Revolução decisiva – a única decisiva! Como poderemos deixar de ser gratos ao grande camarada de armas que veio dar-lhe tão considerável impulso?” [14].

            É em tal sentido, ademais, que, a 24 de novembro de 1900, o então jovem deputado carlista por Tolosa, Víctor Pradera, emprega o termo Revolução, em discurso em defesa da causa legitimista e tradicionalista do Carlismo:

‘”A revolução, Sres. Deputados, é necessária, é de todo ponto de vista imprenscindível; mas para que esta revolução não seja um crime de lesa-pátria, é preciso que leve em conta as energias vitais do país. A revolução tem que ser um revulsivo rápido e enérgico; mas de maneira alguma pode ser uma sangria solta” [15].

            Neste sentido, a que denominamos tradicional, a Revolução não se opõe à Tradição, antes pelo contrário, sendo defendida, antes e acima de tudo, aliás, como forma de restauração da Ordem Tradicional, com a supressão da atual (des)ordem, que, como todos sabem, nada tem de tradicional, havendo nascido e se desenvolvido sob o signo das nefastas ideias apriorísticas, utópicas, individualistas e antitradicionais do iluminismo e do liberalismo e que não deve, pois, ser conservada, mas, antes, combatida pelos verdadeiros tradicionalistas.

Isto posto, cumpre assinalar, tendo em vista os pseudo-tradicionalistas de plantão, demonizadores de todos aqueles que empregam o termo Revolução em sentido positivo, que mesmo os grandes pensadores tradicionalistas que, diversamente de Plínio Salgado, João Ameal, Víctor Pradera ou Rolão Preto, por exemplo, preferiram empregar o termo Revolução em sentido negativo, a exemplo de António Sardinha, Francisco Elías de Tejada e José Pedro Galvão de Sousa, jamais deixaram de admitir o uso daquela palavra em sentido positivo, do mesmo modo que jamais satanizaram alguém apenas por empregá-la neste sentido. Com efeito, em artigo publicado na revista bilíngue hispano-luso-brasileira de cultura e política tradicionalista Reconquista, José Pedro Galvão de Sousa, logo após haver demonstrado que o tradicionalismo não se confunde com o “passadismo ou conservadorismo”, posto que “no presente pode haver muito elemento contrário à tradição, ou mesmo tradições espúrias, que se formaram em detrimento das autênticas e sãs” e haver salientado que a “tradição não se opõe ao progresso”, sendo, antes, pressuposto do progresso [16], observa que

“Quanto à revolução, sabemos que é uma alteração violenta da ordem política. Considerada sob esse prisma conceitual, não implica necessariamente numa concepção filosófica oposta ao tradicionalismo. Pode dar-se por exemplo, o caso de uma revolução cujo escopo seja restaurar instituições tradicionais. Surge aqui o problema do direito de revolução, que muitos tradicionalistas admitem. Logo, o revolucionário nem sempre se opõe ao tradicional, desde que se considere a revolução um simples meio de obter transformações políticas  cuja legitimidade depende em primeiro lugar do fim que se tem em vista” [17].

            Francisco Elías de Tejada, por seu turno, em nota que consta duma das páginas de sua obra intitulada La Monarquía Tradicional, esclarece que suas “críticas à revolução destruidora nada têm que ver com a ideia da revolução enquanto restauração, que aparece no pensamento de José Antonio Primo de Rivera a efeitos de política pragmática” [18].

            Já António Sardinha, “o mais ardoroso condutor do Integralismo Lusitano”, na expressão de João Ameal [19], inclusive empregou, por diversas vezes, o termo Revolução em sua acepção positiva, como quando afirmou, em sua Teoria das Cortes Gerais, que, “Como homens de tradição, somos assim renovadores e, como tal, revolucionários [20].

            É este, pois, o sentido da nossa Revolução, pela qual temos lutado e continuaremos lutando, pela restauração da realeza de Cristo e pela instauração de tudo em Cristo, fazendo nosso o brado de Plínio Salgado, “Primeiro, Cristo!”, e pugnando, ademais, para que o Povo deste vasto Império da Terra de Santa Cruz retome a consciência de seu real valor e da augusta missão que está destinado a realizar no Mundo.  

Por Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,

Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira.

São Paulo do Campo de Piratininga, 24 de dezembro de 2011, LXXIX.



Notas:

[1] Hegel, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Trad. de Norberto de Paula Lima. Adaptação e notas de Márcio Pugliesi. São Paulo: Ícone, 1997, §§ 257-258, pp. 204-205; GENTILE, Giovanni. Idee fondamentali. In Enciclopedia Italiana do Scienze, Lettere ed Arti. Vol. XIV. Milão: Treves-Treccani-Tumminelli, 1932-X, pp. 847-848. Este texto, não assinado e muitas vezes atribuído a Benito Mussolini, foi escrito a pedido deste por Giovanni Gentile (V. TURI, Gabriele. Giovanni Gentile: Una biografia. Florença: Giunti Editore, 1995, p. 426; GREGOR, A. James. Phoenix: Fascism in our time. 1ª ed., 4ª reimpr. New Brunswick: Transaction Books, 2009p. 940.).

[2] ARIAS, Gino. Corso di Economia Politica Corporativa. 2ª ed. aumentada e atual. Roma: Società Editrice Del “Foro Italiano”, 1937-XV, p. XVIII; Idem. Manual de Economía Política. Buenos Aires: L. Lajouane & Cia. – Editores, 1942, p. 410; DEL VECCHIO, Giorgio. Indivíduo, Estado e Corporação (conferência proferida em alemão na Universidade de Zurique em 30 de abril de 1934). Trad. de Marcello Caetano, publicada na Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com leves alterações, acréscimos e supressões, introduzidas pelo próprio autor. In Idem. Teoria do Estado. Trad. portuguesa de António Pinto de Carvalho. Prefácio de Miguel Reale. São Paulo: Edição Saraiva, 1957, p. 210; REALE, Miguel. O Estado Moderno: liberalismo, fascismo, integralismo. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1934, p. 197.

[3] DELAMARE, Alcibíades. Aos moços universitários (resumo, publicado originalmente no jornal A Ofensiva, do discurso proferido a 6 de maio de 1937, no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro, na ocasião em que o autor ofertou o Pavilhão da Pátria aos universitários integralistas). In Enciclopédia do Integralismo, vol. II. Rio de Janeiro: GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 72.

 [4] BARROSO, Gustavo. Comunismo, Cristianismo, Corporativismo. Rio de Janeiro: Editora ABC Limitada, 1938, p. 97.

[5] Nesse sentido v, p. ex.: DELAMARE, Alcibíades. Aos moços universitários, cit., loc. cit; SALGADO, Plínio. Estado Totalitário e Estado Integral (artigo publicado originalmente no jornal A Ofensiva, do Rio de Janeiro, a 01 de novembro de 1936). In Idem. Madrugada do Espírito. 4ª ed. In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. VII. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 443; TELLES JUNIOR, Goffredo. Justiça e Júri no Estado Moderno. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1938, p. 31.

[6] SALGADO, Plínio. Cristo e o Estado Integral (peroração de discurso proferido a 12 de junho de 1937, na Sessão Soleníssima das Cortes do Sigma). In Idem. O Integralismo perante a Nação. 2ª ed. In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. IX. São Paulo: Editora das Américas, 1959, pp. 201-203.

[7] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Plínio Salgado, Arauto e Apóstolo de Cristianismo de Brasilidade. In O Lince, nova fase, ano 4, nº 31, Aparecida-SP, jan/fev. de 2010, pp. 16-18. Também disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=14&vis=. Acesso em 23 de dezembro de 2011;Idem. Plínio Salgado, Bandeirante da Fé e do Império. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=71&vis=. Acesso em 23 de dezembro de 2011.

[8] RAPOSO, Hipólito. A notável oração do Dr. Hipólito Raposo. In Uma reportagem histórica (pubicada originalmente no jornal A Voz, de Lisboa, a 23 de junho de 1946). In VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”. Vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.

[9] ELÍAS DE TEJADA, Francisco. Plínio Salgado na Tradição do Brasil. In VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”. vol. II, cit., pp. 47-48.

[10] Idem, p. 70.

[11] AMEAL, João. Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo (artigo a propósito dos livros Como nasceram as cidades do Brasil e A imagem daquela noite, de Plínio Salgado, publicado originalmente na Revista de Cultura Portuguesa Rumo, ano I, nº 6, 1946). In VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”. vol. II, cit., p.129.

[12] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Mensagem de Natal e Ano Novo. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=63&vis=. Acesso em 23 de dezembro de 2011.

[13] SHEEN, Fulton J. Filosofias em luta. Trad. De Cypriano Amoroso Costa. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1946, p. 18.

[14] AMEAL, João. Apresentação. In SALGADO, Plínio. O Rei dos Reis. 5ª ed. (em verdade 6ª). In Idem. Primeiro Cristo!. 4ª ed. (em verdade 5ª). São Paulo/Brasília: Editora Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1979, p. 94. Grifos em itálico no original.

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